E mais uma vez me deparo no canto do meu quarto olhando para porta entre-aberta esperando pela chegada de alguém, qualquer um. Como um bicho sempre me escondi dos meus problemas internos nessa sombra que existe até à noite. Os efeitos dos remédios sempre tiveram êxito mas parece que hoje não aconteceu assim, eu deitei cedo e logo sonhei.
Sonhei que estava em um quarto bem parecido com o meu mas... tinha pouca luminosidade, a densidade do ar era muito mais pesada, as paredes eram de um tom escuro quase um cinza (quem pintaria um quarto de cinza?) não sei o porque mas me senti muito a vontade nele parecia que eu estava no lugar que eu sempre me enxerguei, mas era bem maior. Andei pelo quarto sem ver o final, esbarrei na cama desarrumada e com lençóis manchados de sangue, cheirava a bebida barata e as paredes mesmo sendo escuras eu conseguia ver a sujeira. Me lembro muito bem de dois espelhos turvos e um quebrado, cheguei a um ponto em que não tinha mais mobilha o quarto se transformara em um corredor bem extenso parecia o filme de terror da minha vida.
Depois de andar muito mais, não tinha o que perder atrás mesmo. Andei e andei, em uma parte um pouco mais clara vi um espelho bem grande que cobria quase todo o fundo do quarto ali terminava a jornada, tinha bordas de ouro com pequenos traços pretos de sujeira que denunciavam sua idade mas não sua importância. Olhei bastante pra mim no espelho por mais que a luz estivesse um pouco melhor naquele local não sei o porque, não tinha janelas ali por onde vinha a luz? o reflexo do espelho era escuro, o meu reflexo era conturbado e triste, vi olheiras e cabelo desarrumado, roupa escura e rasgada. Minha expressão de susto refletia como insegurança e medo e a oração do silêncio ecoava tão alto que eu mal ouvia meus próprios gritos.
De repente vi mais luz, muito mais luz! era o sol nascendo bem no meu rosto. Eu sei que deitei cedo mas não consigo lembrar se dormi.
- Gustavo Amancio
Gustavo Amancio de Souza
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015